sexta-feira, 28 de abril de 2017

TANQUE DO CORONEL E SUAS CURIOSIDADES

No século XIX o Engenho de Água Comprida pertencia a tradicional família baiana, os Teive e Argolo e suas origens remontam aos primórdios da colonização brasileira. João de Teive e Argolo e Ana Cypreste de Pina e Mello de Teive e Argolo casaram-se e após a morte de seu esposo, seu filho João de Teive e Argolo passou a administrar suas propriedades. Este se casou com Leonor Maria Pires de Aragão Bulcão, filha de uma importante família aristocrática baiana (SILVA, 2017).  O engenho de Água Comprida ficava na Freguesia de São Miguel do Cotegipe, hoje Simões Filho, e junto com a Freguesia de Pirajá, Iguape, as Vilas de São Francisco e Santo Amaro constituía os principais centros de produção açucareira no Recôncavo.

O Tanque do Coronel hoje pertencente à região do Cia II (em Simões Filho) é uma localidade rodeada de lendas. Consta segundo a população local que o manancial é mal assombrado e a noite é fácil ouvir ladainhas, gemidos de dor e choros. Tudo isso por conta de um Coronel que usava de violência com seus escravos. Amarrava-os a um pelourinho e ali os cativos sofriam as maiores violências. Em entrevista com o morador do bairro, residente no mesmo a mais de 26 anos e pescador; há alguns anos atrás mergulhadores verificaram que existiam ainda correntes no fundo do Tanque. O local ainda conta com a história de pessoas que ao entrarem para se banhar saíram de lá loucas, sem falar nos inúmeros afogamentos que já foram presenciados ali, e, que a população delega a culpa aos acontecimentos sobrenaturais que rodeiam o local.
Imagem do Tanque do Coronel-  por Bárbara Nogueira.

O final do século XIX as questões em torno do fim da escravidão já pairava sobre as províncias brasileiras.  As leis em torno das proibições da escravatura iniciam-se em 1850 com a Lei Eusébio de Queiróz. Essa lei proibia o tráfico de escravos para o Brasil. No entanto, o número de cativos que entraram no Brasil depois de 1850 aumentou consideravelmente, formando assim o tráfico ilegal.  Depois teve a Lei do Ventre Livre no ano de 1871, considerada a primeira Lei abolicionista do Brasil, onde os filhos dos cativos após a promulgação da mesma nasceriam livres. Porém, o liberto deveria permanecer trabalhando para o senhor até os 21 anos de idade. A lei dos Sexagenários promulgada em 1885 dava liberdade aos escravos com mais de 65 anos de idade. Uma lei formulada para uma realidade que não existia, pois os escravos tinham expectativa de vida de até 40 anos. 
Os anos entre 1870 a 1880 foram marcantes pela organização de instituições abolicionistas, como: Sociedade Libertadora Sete de Setembro e a Sociedade Libertadora Baiana, tendo como principal liderança o Eduardo Carigé.  Eduardo Carigé vai acusar João de Teive e Argolo de assassinato por ter batido no seu escravo Damião com um “porrete” e o mesmo ter ido a óbito. Carigé soube desta informação através do crioulo Damião, escravo fugido do Engenho Água Comprida, após ter levado 300 “palmadas”, sendo 200 em uma quarta-feira aplicadas pelo feitor Procópio e 100 restantes na sexta-feira pelo metedor de fogo Rafael, ambos escravos, os motivos pelo castigo seria a cauda cortada de um boi que segundo Silvestre tinha sido causado por um cachorro. Segundo Silvestre Damião apesar de 24 anos de idade quando faleceu, sofria constantemente de cansaço e por isso não conseguia ter habilidade no trabalho como os outros, chateado com isso Teive e Argolo teria dado umas cacetadas no escravo, usando um porrete que o mesmo sempre trazia a mãos, provocando os ferimentos que o levaram a óbito.
Desenho que representa a história contada pela população local.
Desenho de Alessandro Couto Maia.

 Silvestre após fugir procurou Carigé e contou que João de Teive e Argolo “senhor moço” estava acostumado a castigar os escravos do engenho, fato que era de conhecimento de sua mãe ao qual durante diversas vezes presenciou os feitos sem dizer absolutamente nada (SILVA, 2017).  Além de Silvestre, os escravos Tibúrcio e Teotônio, ambos carreiros, haviam sido também castigados por demorarem com o carro no mato. O escravo Teotônio pertencia ao tio de João, Miguel de Teive e Argolo dono do Engenho Novo de São João, porém estava alugado.  Maus tratos no final do século XIX eram atitudes senhoriais que vinham sendo condenadas frequentemente, principalmente com a veiculação constante que se fazia destes acontecimentos no jornal abolicionista Gazeta da Bahia. Foi utilizando deste argumento que Carigé acusou João de Argolo e Teive de assassino, tentando chegar a um acordo com o senhor para a liberação da alforria do cativo, porém sem sucesso.
No entanto, a versão de Silvestre não teve confirmação. Pois, intimados a depor como informantes vários escravos do engenho de Água Comprida, como: Vicente, Tibúrcio, Teotônio, Eufêmia, Paulino, Romana, Guilherme (este último, seu irmão) e o liberto Sinfrônio negaram a acusação, afirmando que nunca ouviram falar de assassinato e Damião vivia doente e morrera de cansaço. Agregados moradores ou trabalhadores do engenho também confirmaram essas acusações. Assim como o proprietário Manoel Pereira da Rocha, de 82 anos, morador na Fazenda Dambé, o lavrador Bento de Oliveira, de 62 anos, o mestre de açúcar Manoel Joaquim Barbosa, de 70 anos, e o oficial de carpina Manoel Paulo da Costa. Todos eles também atestaram a boa conduta de João de Teive e Argolo no tratamento dos escravos, confirmando que no engenho existia uma enfermaria com a enfermeira Eufêmia que cuidava dos doentes na ausência do médico (SILVA, 2017). Em depoimento João de Teive e Argolo, afirmou que quando assumiu a administração do engenho de sua mãe já encontrou o escravo Damião inválido pela gravidade da moléstia de inflamação geral que o escravo sofria, e mediante as orientações médicas dadas por seu primo, o Dr. José de Teive e Argolo (falecido em 1879), empenhou-se em tratar de Damião, tendo inclusive encarregado outro escravo mais velho de fiscalizar se este estava tomando o preparado de ferro que lhe fora receitado. Entretanto, mesmo com estes cuidados o escravo vivia constantemente doente, e por isso veio repentinamente a falecer.
Desta forma, não existindo qualquer pista ou contradição nos depoimentos prestados, o delegado Antônio José Marques concluiu o inquérito julgando improcedente a denúncia feita pela Libertadora Bahiana. E o suposto crime cometido em 1874 nunca veio à tona, embora tenha ficado na memória dos cativos dali (SILVA, 2017). Acreditamos que através da oralidade que esta história foi se mantendo viva até os dias de hoje na História Local dos moradores de Simões Filho. Desta forma, Tanque do Coronel que é ponto de entretenimento da população simõesfilhense, também, faz parte da Cultura da cidade, como um patrimônio imaterial.


Ana Cláudia Lopes
Licenciada em História pela UFRB


Referência:

ALBUQUERQUE, Wlamyra R. de. O jogo da dissimulação: abolição e cidadania negra do Brasil; Wlamyra R. de Albuquerque- São Paulo: Companhia das Letras, 2009.
HORA, Antônio Apolinário da. História Comprida/ Antônio Apolinário da Hora.- Simões Filho: Secretária de Cultura e Desportos, 2005.  
MATTOSO, Kátia M. de Queirós. Ser escravo no Brasil / Kátia M. de Queirós Mattoso: tradução James Amado.— São Paulo: Brasiliense, 2003. 
SILVA, Ricardo Tadeu Caires. CAMINHOS E DESCAMINHOS DA ABOLIÇÃO: ESCRAVOS, SENHORES E DIREITOS NAS ÚLTIMAS DÉCADAS DA ESCRAVIDÃO (BAHIA, 1850-1888). Dissertação (mestrado) – UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ- UFPR - SETOR DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA. Curitiba, 2017.

 

quinta-feira, 27 de abril de 2017

CRONOGRAMA DE ATIVIDADE NAS ESCOLAS

No mês de maio de 2017 iniciam-se a Exposição Itinerante juntamente com as oficinas temáticas  nas Escolas de Simões Filho. As atividades serão realizadas com turmas do Fundamental II. Nelas abordaremos além da História dos pontos, analisados e já relatados aqui, trataremos de questões em torno da Identidade Coletiva e Pessoal, História e Memória, Patrimônio, História Local, História Oral, Bens Culturais e Educação Patrimonial. 



MAIO 2017

Segunda
Terça
Quarta
Quinta
Sexta
Sábado

Manhã/
Tarde
08
Lançamento/
Escola Estadual Reitor Miguel Calmon
09
Escola Estadual Regina Simões .
10





Manhã/ Tarde
15
Escola Estadual Polivalente

17
Remarcado 
Escola Estadual Hermes Miranda



Manhã/
Tarde
22
Centro Educacional Santo Antônio
23
Escola Estadual Berlindo Mamede
24
Escola Estadual Hermes Miranda



VISITA TÉCNICA E REUNIÃO COM A EQUIPE

No último dia 25 de abril mais uma etapa da pré-produção do projeto Viagem por uma História Comprida aconteceu, através de uma visita técnica por alguns pontos de Simões Filho, como: Centro de Simões Filho (Antigo terras do Engenho Novo), Cia II e Cia I (Antiga terra do Engenho de Água Comprida), Mapele (Estação de Mapele), Aratu (Ruína do Casarão dos Magalhães e Usina Aratu). Assim como, uma reunião de preparação para monitores e mediadores patrimoniais (oficineiros), ministrado por Cláudia Lopes. Tendo a presença de Bárbara Nogueira ( pesquisadora que deu apoio a Tâmara Soledade) trazendo para o grupo suas experiências no caminho da pesquisa. Esse momento foi de grande importância, pois o grupo conseguiu entender a complexidade e a grandiosidade da História Local, além da troca de experiências e conhecimento patrimonial, histórico e pedagógico. A atividade contou com a presença de Esmeralda Borges (Proponente), Mary Santana, Tanise Andrade (monitoras) e Eliane Araújo, Jadson Santos, Rodrigo Paixão e Tamires Costa (oficineiros), Lorna Lunière (Assessoria de Imprensa).  Essa atividade somou de forma positiva ao processo de pré-produção, pois foi um momento final para que cada participante pudesse tirar suas dúvidas e entender sua real importância para o desenvolvimento do projeto nesta nova etapa que a partir de maio do ano corrente acontecerá nas escolas da cidade.