sábado, 2 de julho de 2022

A PARTICIPAÇÃO DAS MULHERES NA LUTA DE INDEPENDÊNCIA E NA CONDUÇÃO DO FOGO SIMBÓLICO EM SIMÕES FILHO

 

O processo que desencadeou a Independência do Brasil teve início com a pressão das Cortes Portuguesas para que a Família Real retorna-se a Portugal e o Brasil voltasse a ser sua colônia, uma vez que, desde 1815, tínhamos sido elevados a Reino Unido de Portugal e Algarves. Em 1821, com o retorno de D. João VI a Portugal, D. Pedro foi nomeado como príncipe regente. No entanto, vinha de Portugal uma pressão para sua volta junto a Princesa Leopoldina.

Mesmo com as pressões, em janeiro de 1822, o príncipe regente afirmou que ficaria no Brasil, desobedecendo às ordens do rei e marcando o que ficou conhecido como o Dia do Fico. Em fevereiro do mesmo ano, o General Madeira de Melo foi nomeado por D. João VI como comandante das armas. Visto que a Bahia era uma região política e economicamente importante, tanto para Portugal quanto para o Brasil, o General assumiu o controle das tropas portuguesas na cidade de Salvador em favor de Portugal.

O começo do conflito em Salvador fez com que a elite baiana fugisse da capital para o interior, e é nesse momento que o recôncavo toma as rédeas da situação e começa as articulações das vilas, cidades e freguesias.  Antes mesmo do dia 7 de setembro, no dia 25 de junho de 1822, D. Pedro já era reconhecido como governante do Brasil em Cachoeira. Foram quase 10 meses desde o grito de independência até a expulsão dos portugueses das terras brasileiras, que contou com a mobilização de boa parte da população baiana.

A Guerra durou quase 21 meses, entre fevereiro de 1822 a novembro de 1823. Existia a necessidade de não permitir avanço da tropa portuguesa, assim, barrigadas foram feitas para que alimentos não chegassem à capital e enfraquecesse as tropas portuguesas. Batalhas também foram presenciadas em diversos locais, tanto por terra quanto por mar, como Itaparica, Cachoeira, São Felix, São Amaro, São Francisco do Conde, Saubara, Salvador e outros.

Apesar do investimento de D. Pedro para a contratação de soldados estrangeiros e dos soldados nacionais, ao longo dos meses, a população moradora das vilas, cidades e freguesias foram incorporando a massa dos combatentes. Eram homens brancos pobres, escravizados, libertos, indígenas, assim como mulheres, religiosas, brancas, escravizadas, libertas sejam elas africanas ou nascidas no Brasil.

E é pensando nessa importância que não pretendemos aqui descortinar acerca dos processos de Independência, mas colocar uma lente de aumento nas questões das mulheres, fazendo uma pequena homenagem à sua participação na Guerra de Independência e na condução da tocha do Fogo Simbólico.


Sua participação na consolidação da separação do Brasil de Portugal teve na figura de Princesa Leopoldina uma diplomata que soube aconselhar, liderar e tomar decisões assertivas. Mas, além de Leopoldina, muitas mulheres foram importantes em suas localidades. Joana Angélica, por exemplo, foi uma religiosa que estava na direção do Convento da Lapa, em Salvador, e, aos 60 anos de idade, tentou impedir a entrada de soldados portugueses no Convento em busca de soldados brasileiros, sendo ferida e morta em fevereiro de 1822. A morte de Joana Angélica serviu como estopim para a revolta dos brasileiros.

Joana Angélica 


Maria Felipa também foi importante figura que representa a participação da população negra, em especial da mulher negra, seja ela escravizada ou liberta, nas Lutas de Independência.  Maria Felipa de Oliveira era negra, marisqueira de Itaparica e, ali, liderou mulheres negras e a população indígena – tupinambás e tapuias – contra os portugueses. Conta-se que em uma das batalhas, o grupo de Maria Felipa queimou 40 embarcações portuguesas que estavam próximas à Ilha.


Maria Felipa de Oliveira- 


Outra importante e pouco conhecida participação das mulheres negras foi o que ficou conhecido como “As Caretas do Mingau”, hoje, manifestação cultural de Saubara, no Recôncavo. No período da Guerra, mulheres negras saíam vestidas com um lençol branco, fazendo zoada com panelas e sons altos pela boca a fim de assustar as tropas portuguesas, fazendo-os acreditar que eram assombrações. No trajeto, iam deixando guarnições de comida para os soldados brasileiros nos locais combinados.

Figura feminina também de enorme preponderância foi Maria Quitéria, considerada a primeira mulher militar brasileira. Tendo habilidade no manejo das armas por ter militares em sua família, Maria Quitéria fugiu de casa, roubando o uniforme e os documentos de seu cunhado e, se passando por homem, integrou-se ao Batalhão Voluntário do Príncipe, liderado por João Antônio, avô do poeta Castro Alves.


Maria Quitéria


Aquele Batalhão ficou conhecido como Batalhão dos Periquitos por conta de seus uniformes que tinha colarinhos e punhos verdes. Incorporada no Batalhão, Maria Quitéria recebeu o nome de soldado Medeiros. Muito elogiado pela sua bravura, ainda em meio à batalha, em uma passagem do Batalhão dos Periquitos pelas terras de seu pai, o soldado Medeiros foi reconhecido por ele que tentou levar a filha para casa, mas João Antônio o impediu.

Maria Quitéria se destacou em combates, como: os da Ilha da Maré, da Barra do Paraguaçu, de Pirajá, Pituba e Itapuã. Quando o Batalhão dos Periquitos entrou na capital, em 2 de julho de 1823, foi aclamada pelo povo. Exemplo de coragem, em 1823, recebeu a patente de cadete do coronel Labatut e a medalha Ordem Imperial do Cruzeiro do Sul das mãos do próprio Dom Pedro, em solenidade para a qual ganhou um uniforme especialmente feito para ela, com um saiote sobre a calça. De volta à Bahia, Quitéria levou carta ao pai escrita pelo Imperador pedindo que a perdoasse pela desobediência.



Pavilhão do Fogo Simbólico- imagem do acervo Biblioteca Municipal Cícero Simões 


Hoje, 199 anos depois, o fogo simbólico, presente nos desfiles de Dois de Julho desde o ano de 1959, não apenas representa a união dos povos que lutaram pela independência, mas sua passagem pela nossa cidade também simboliza a participação da Freguesia de São Miguel de Cotegipe, hoje Município de Simões Filho, nessa Luta.

Nos primeiros anos, a passagem por Água Comprida se dava na BR- 324, na cabeceira do viaduto sobre a Rede Ferroviária Federal.  No horário das 18h, o local era todo enfeitado para a espera dos atletas que vinham das cidades vizinhas conduzindo a tocha. A população simõesfilhense acompanhava essa passagem, no dia 01 de julho, pelo Serviço de Auto Falante Ypiranga. Apenas no ano de 1962, o fogo simbólico começou a entrar na cidade.

Em “1962, políticos de Salvador vieram para a cidade houve uma vigília cívica com participação de vereadores e da população, foi a partir daquele ano que atletas carregando o fogo simbólico acenderam a pira em praça pública e o grupo de Simões Filho passou a levar a Tocha até o panteão de Pirajá”.

Ontem 01 de julho, fez  60 anos de celebração da entrada do Fogo Simbólico na nossa cidade. E, nesse ano, o fogo simbólico em Simões Filho homenageou a primeira mulher simõesfilhense a conduzir a tocha, Rose Meire dos Anjos, filha de José das Anjos Sobrinho e Expedita Bernardinho dos Anjos. Nascida no dia 22 de novembro de 1959 nessa cidade, Rose Meire concluiu o Ensino Médio no Colégio Municipal Padre Luiz Palmeira e foi atleta na modalidade de atletismo e handebol. Aos 21 anos de idade, no ano de 1980, tornou-se a primeira mulher na História de Simões Filho a participar como atleta conduzindo a tocha do fogo simbólico.

Rose Meire dos Anjos residiu nessa cidade até o fim de sua vida, no ano de 2021. Querida pelos amigos, conhecidos e familiares, foi servidora da Prefeitura Municipal por mais de 30 anos, atuando na área de Administração e fazendo um excelente trabalho social no município com base na caridade e sem divulgar seus feitos. Sua participação em 1980, abriu a possibilidade para que tantas outras mulheres simõesfilhense pudessem conduzir a Tocha do Fogo Simbólico e, com essa atitude, também pudessem homenagear a participação feminina na Luta de Independência não só da Bahia, mas do Brasil.

 

Ana Cláudia Lopes 

REFERÊNCIAS:

COSTA, Tamires da Conceição. Relatório técnico de produção do paradidático: Independência do Brasil na Bahia: memória e patrimônio no Recôncavo. -Cachoeira, 2017.

 LOPES, Ana Cláudia de J. A Participação de Simões Filho na Luta de Independência.

 HORA, Antônio Apolinário da. História comprida. - Simões Filho: Secretaria de Cultura e Desportos, 2005.

TAVARES, Luís Henrique Dias. A Independência do Brasil na Bahia. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1977. INL, 190 p. (Coleção Retratos do Brasil; 104)

 MANGABEIRA, Walter. O munícipio, 1994

 2 de julho: a libertação do Brasil na Bahia. Salvador: Fundação Pedro Calmon, 2009. 59p.

Folder da Fogo Simbólico 196 anos de Independência – Simões Filho faz parte desta História. Biblioteca Municipal Prof. Cícero Simões da Silva Freitas.

SITES PESQUISADOS:

https://www.ipea.gov.br/desafios/index.php?option=com_content&view=article&id=3206&catid=28&Itemid=39

I   Imagem de Maria Felipa- https://www.geledes.org.br/quase-um-seculo-depois-moradores-incluem-nome-de-maria-felipa-entre-os-herois

Imagem de Joana Angélica-https://www.google.com/url?sa=i&url=https%3A%2F%2Fwww.luzepaz.org%2Fmadre-joana-angelica%2F&psig=AOvVaw1fyt6qZxBUDSTFE1m8dzQ_&ust=1656896408051000&source=images&cd=vfe&ved=0CAwQjRxqFwoTCPC14aLC2_gCFQAAAAAdAAAAABAM

    https://www.salvadordabahia.com/o-2-de-julho-independencia-do-brasil-na-bahia/