O processo que desencadeou a Independência do Brasil teve
início com a pressão das Cortes Portuguesas para que a Família Real retorna-se
a Portugal e o Brasil voltasse a ser sua colônia, uma vez que, desde 1815,
tínhamos sido elevados a Reino Unido de Portugal e Algarves. Em 1821, com o
retorno de D. João VI a Portugal, D. Pedro foi nomeado como príncipe regente.
No entanto, vinha de Portugal uma pressão para sua volta junto a Princesa
Leopoldina.
Mesmo com as pressões, em janeiro de 1822, o príncipe
regente afirmou que ficaria no Brasil, desobedecendo às ordens do rei e
marcando o que ficou conhecido como o Dia do Fico. Em fevereiro do mesmo ano, o
General Madeira de Melo foi nomeado por D. João VI como comandante das armas.
Visto que a Bahia era uma região política e economicamente importante, tanto
para Portugal quanto para o Brasil, o General assumiu o controle das tropas
portuguesas na cidade de Salvador em favor de Portugal.
O começo do conflito em Salvador fez com que a elite baiana
fugisse da capital para o interior, e é nesse momento que o recôncavo toma as rédeas
da situação e começa as articulações das vilas, cidades e freguesias.
Antes mesmo do dia 7 de setembro, no dia 25 de junho de 1822, D. Pedro já era
reconhecido como governante do Brasil em Cachoeira. Foram quase 10 meses desde o
grito de independência até a expulsão dos portugueses das terras brasileiras, que
contou com a mobilização de boa parte da população baiana.
A Guerra durou quase 21 meses, entre fevereiro de 1822 a
novembro de 1823. Existia a necessidade de não permitir avanço da tropa
portuguesa, assim, barrigadas foram feitas para que alimentos não chegassem à
capital e enfraquecesse as tropas portuguesas. Batalhas também foram
presenciadas em diversos locais, tanto por terra quanto por mar, como Itaparica,
Cachoeira, São Felix, São Amaro, São Francisco do Conde, Saubara, Salvador e
outros.
Apesar do investimento de D. Pedro para a contratação de soldados
estrangeiros e dos soldados nacionais, ao longo dos meses, a população moradora
das vilas, cidades e freguesias foram incorporando a massa dos combatentes.
Eram homens brancos pobres, escravizados, libertos, indígenas, assim como
mulheres, religiosas, brancas, escravizadas, libertas sejam elas africanas ou
nascidas no Brasil.
E é pensando nessa importância que não pretendemos aqui
descortinar acerca dos processos de Independência, mas colocar uma lente de
aumento nas questões das mulheres, fazendo uma pequena homenagem à sua participação
na Guerra de Independência e na condução da tocha do Fogo Simbólico.
Sua participação na consolidação da separação do Brasil de
Portugal teve na figura de Princesa Leopoldina uma diplomata que soube
aconselhar, liderar e tomar decisões assertivas. Mas, além de Leopoldina,
muitas mulheres foram importantes em suas localidades. Joana Angélica, por
exemplo, foi uma religiosa que estava na direção do Convento da Lapa, em
Salvador, e, aos 60 anos de idade, tentou impedir a entrada de soldados
portugueses no Convento em busca de soldados brasileiros, sendo ferida e morta
em fevereiro de 1822. A morte de Joana Angélica serviu como estopim para a revolta
dos brasileiros.
Joana Angélica |
Maria Felipa também foi importante figura que representa a
participação da população negra, em especial da mulher negra, seja ela
escravizada ou liberta, nas Lutas de Independência. Maria Felipa de Oliveira era negra,
marisqueira de Itaparica e, ali, liderou mulheres negras e a população indígena
– tupinambás e tapuias – contra os portugueses. Conta-se que em uma das batalhas,
o grupo de Maria Felipa queimou 40 embarcações portuguesas que estavam próximas
à Ilha.
Maria Felipa de Oliveira- |
Outra importante e pouco conhecida participação das
mulheres negras foi o que ficou conhecido como “As Caretas do Mingau”, hoje,
manifestação cultural de Saubara, no Recôncavo. No período da Guerra, mulheres
negras saíam vestidas com um lençol branco, fazendo zoada com panelas e sons
altos pela boca a fim de assustar as tropas portuguesas, fazendo-os acreditar
que eram assombrações. No trajeto, iam deixando guarnições de comida para os
soldados brasileiros nos locais combinados.
Figura feminina também de enorme preponderância foi Maria
Quitéria, considerada a primeira mulher militar brasileira. Tendo habilidade no
manejo das armas por ter militares em sua família, Maria Quitéria fugiu de
casa, roubando o uniforme e os documentos de seu cunhado e, se passando por
homem, integrou-se ao Batalhão Voluntário do Príncipe, liderado por João
Antônio, avô do poeta Castro Alves.
Maria Quitéria |
Aquele Batalhão ficou conhecido como Batalhão dos
Periquitos por conta de seus uniformes que tinha colarinhos e punhos verdes. Incorporada
no Batalhão, Maria Quitéria recebeu o nome de soldado Medeiros. Muito elogiado
pela sua bravura, ainda em meio à batalha, em uma passagem do Batalhão dos
Periquitos pelas terras de seu pai, o soldado Medeiros foi reconhecido por ele que
tentou levar a filha para casa, mas João Antônio o impediu.
Maria
Quitéria se destacou em combates, como: os da Ilha da Maré, da Barra do
Paraguaçu, de Pirajá, Pituba e Itapuã. Quando o Batalhão dos Periquitos entrou
na capital, em 2 de julho de 1823, foi aclamada pelo povo. Exemplo de coragem, em
1823, recebeu a patente de cadete do coronel Labatut e a medalha Ordem Imperial
do Cruzeiro do Sul das mãos do próprio Dom Pedro, em solenidade para a qual
ganhou um uniforme especialmente feito para ela, com um saiote sobre a calça.
De volta à Bahia, Quitéria levou carta ao pai escrita pelo Imperador pedindo
que a perdoasse pela desobediência.
Pavilhão do Fogo Simbólico- imagem do acervo Biblioteca Municipal Cícero Simões |
Hoje, 199 anos depois, o fogo simbólico, presente nos
desfiles de Dois de Julho desde o ano de 1959, não apenas representa a união
dos povos que lutaram pela independência, mas sua passagem pela nossa cidade também
simboliza a participação da Freguesia de São Miguel de Cotegipe, hoje Município
de Simões Filho, nessa Luta.
Nos primeiros anos, a passagem por Água Comprida se dava na
BR- 324, na cabeceira do viaduto sobre a Rede Ferroviária Federal. No horário das 18h, o local era todo enfeitado
para a espera dos atletas que vinham das cidades vizinhas conduzindo a tocha. A
população simõesfilhense acompanhava essa passagem, no dia 01 de julho, pelo
Serviço de Auto Falante Ypiranga. Apenas no ano de 1962, o fogo simbólico
começou a entrar na cidade.
Em “1962, políticos de Salvador vieram para a cidade houve
uma vigília cívica com participação de vereadores e da população, foi a partir
daquele ano que atletas carregando o fogo simbólico acenderam a pira em praça
pública e o grupo de Simões Filho passou a levar a Tocha até o panteão de
Pirajá”.
Ontem 01 de julho, fez 60 anos de celebração da entrada do Fogo
Simbólico na nossa cidade. E, nesse ano, o fogo simbólico em Simões Filho homenageou a primeira mulher
simõesfilhense a conduzir a tocha, Rose Meire dos Anjos, filha de José das
Anjos Sobrinho e Expedita Bernardinho dos Anjos. Nascida no dia 22 de novembro
de 1959 nessa cidade, Rose Meire concluiu o Ensino Médio no Colégio Municipal
Padre Luiz Palmeira e foi atleta na modalidade de atletismo e handebol. Aos 21
anos de idade, no ano de 1980, tornou-se a primeira mulher na História de
Simões Filho a participar como atleta conduzindo a tocha do fogo simbólico.
Rose Meire dos Anjos residiu nessa cidade até o fim de sua
vida, no ano de 2021. Querida pelos amigos, conhecidos e familiares, foi
servidora da Prefeitura Municipal por mais de 30 anos, atuando na área de
Administração e fazendo um excelente trabalho social no município com base na
caridade e sem divulgar seus feitos. Sua participação em 1980, abriu a
possibilidade para que tantas outras mulheres simõesfilhense pudessem conduzir
a Tocha do Fogo Simbólico e, com essa atitude, também pudessem homenagear a
participação feminina na Luta de Independência não só da Bahia, mas do Brasil.
Ana Cláudia Lopes
REFERÊNCIAS:
COSTA, Tamires da Conceição. Relatório técnico de produção do paradidático: Independência do Brasil na Bahia: memória e patrimônio no Recôncavo. -Cachoeira, 2017.
TAVARES, Luís Henrique Dias. A Independência do Brasil na Bahia. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1977. INL, 190 p. (Coleção Retratos do Brasil; 104)
Folder da Fogo Simbólico 196 anos de Independência – Simões Filho faz parte desta História. Biblioteca Municipal Prof. Cícero Simões da Silva Freitas.
SITES PESQUISADOS:
I Imagem de Maria Felipa- https://www.geledes.org.br/quase-um-seculo-depois-moradores-incluem-nome-de-maria-felipa-entre-os-herois
I Imagem de Joana Angélica-https://www.google.com/url?sa=i&url=https%3A%2F%2Fwww.luzepaz.org%2Fmadre-joana-angelica%2F&psig=AOvVaw1fyt6qZxBUDSTFE1m8dzQ_&ust=1656896408051000&source=images&cd=vfe&ved=0CAwQjRxqFwoTCPC14aLC2_gCFQAAAAAdAAAAABAM
https://www.salvadordabahia.com/o-2-de-julho-independencia-do-brasil-na-bahia/